"Quem sabe, um dia, eu não deixe de ser assim tão inconstante e instável? Até lá, sou uma nova atração a cada dia"

(Sttela Vasco)





sábado, 1 de fevereiro de 2014

Busca

Minha jornada é longa, meu caminho é vezes vazio, vezes frio.
Vou caminhando entre dias de força e dias de pura queda.
Eu caminho. Sou andarilha de algo que não escolhi buscar, mas que necessito.
Os pés doem. O chão é cruel, é seco. E sua secura crua e negra tende a me sugar para seu interior.
Mantenho essa jornada em silêncio. Um lugar escondido, perdido através das trilhas que eu, cega, cavei. Que eu, em solo seco, vou cavando em busca.
Em busca, em busca, em busca.
E é tão precioso. Tão maravilhosamente singular que mantém minha turva visão persistente.
Mantém minhas pernas bambas a me sustentar.
A aridez corrói, faz sulcos em lugares que minha pobre alma desprotegida não consegue reparar.
Vou esvaindo, sangrando, secando.
Vou arrastando, vou implorando.
Vou através de uma prece sem palavras, um grito sem voz, um pranto sem lágrimas.
Cruzo, ando, caminho.
Tropeço, caio, enfraqueço.
Mas eu busco.
Eu busco, eu busco, eu busco.
Há de vir, há de ser encontrado.
Há de essa caçada ter motivo e ter seu fim em uma doce e fugaz epifania.
Eis que esse suplício, esse pesado fardo, essa tão difícil missão terá seu fim.
Não há desistência. Há fraqueza. Mas há a retomada também.
Eu busco.
Eu busco, eu sigo em busca, eu mantenho minha procura.
Eu mantenho a reza, a oração.
Eu mantenho, eu sigo, eu vou.
Eu sigo.
Eu vou nessa busca esperando que um dia ela se torne meu venha cá.
E ainda não parei de procurar.
Sttela Vasco.


terça-feira, 9 de julho de 2013

Sobre partidas, uma terra de sol e canções coutry.


Uma canção toca no rádio, alguém bate palmas.
Os saltos da bota traçam um risco no chão. Linha reta. Divisão.
Ela sobra e empurra os cabelos.
Shorts rasgados, uma camiseta velha. Uma versão rústica de si.
Ele cruza o horizonte e o sol transpassa seu corpo.
Assim, ao longe, parece invencível. Assim, tão heroicamente, ele se torna impossível.
Apoiada contra a porta, ela é mais um rosto que ele talvez veja pelo caminho.
Junto á linha do horizonte, ele é a coisa mais bela que ela já viu.
Talvez ele converse com Deus, porque alguém como ele deve ter um toque do divino.

Ergue a cabeça em direção ao céu, ele olha para frente.
Ela prefere vislumbrar o impossível, ele o futuro.
Suas botas riscam trilhas que serão seu futuro.
Os cascos imponentes daquela figura manchada de marrom e branco é o que o levará para longe.
Mas o longe é o lugar para onde todos vão quando tentam realmente alcançar algo.
O longe é para onde precisam ir se querem entregar sua vida por algo.
Longe é para quem quer aquilo que sua raiz não deu.
Longe é para quem ouve o vento e tenta a ele se igualar.
Ela é o perto.

Muito provavelmente ele não volte.
Quando alguém precisa ir tão distante assim, não há como voltar para o perto.
Voltar seria arriscar demais.
Ficar seria perder.
Ela é o ficar.
E, por algum outro motivo qualquer que não pode se lembrar, ela vai esperar.

(Sttela Vasco)

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Noites que não fizeram sentido, pensamentos perdidos I


Ela se deitou, ele estava dormindo. Eram estranhos conhecidos. Sabiam, não serviam como um casal, mas também não serviam sozinhos e, então, decidiram que não servir à dois seria melhor do que a um.
Ela se encolheu e rolou duas ou três vezes pela cama, a luz do abajur a incomodava, mas ele detestava escuridão. Ela riu, ela era a escuridão.
Levantou-se, saiu pela varanda e olhou o céu e, olhando o céu, pensou:

“Se eu esticar meus braços bem para o alto, aproximar minhas mãos e piscar várias vezes, eu poderei fingir que o céu está em minhas mãos. Ele será uma grande bola de massa a qual eu posso moldar.
O mesmo com esse homem... Se eu me aproximar, estender minhas mãos sobre seu rosto e piscar várias vezes, ele será uma grande bola de massa também. E eu poderei moldá-lo.
Eu serei seu Michelangelo.
Ele será mármore ou granito.
Eu sempre serei seu Michelangelo, mas ele nunca será meu Davi”.

Respirou fundou algumas vezes, engoliu lágrimas porque simplesmente não servia para chorar também. Voltou à cama e se enrolou no cobertor. Sua peça mal feita dormia, ela não tinha controle algum sobre ele. Ou teria?
O controle estava em sua própria mente que a manipulava o suficiente para lhe fazer acreditar que manipularia a alguém.
Não, ela não estenderia os braços. Não, ela não moldaria o céu. Não, ele não seria seu Davi. Mas ela, ah ela, ela seria pouco menos que uma escultora de si.

Sttela Vasco

Reflexões Alternativas

Músicas alegres demais me deixam triste. É como quando ouço “Aquarela”, do Toquinho. Ela é leve e feliz, mas por alguma razão me entristece Ok, talvez tristeza seja demais... Talvez seja somente uma onda massiva de nostalgia que me invade de vez em quando. Enfim, sei que sinto algo estranho e que não é alegria – talvez seja, afinal, talvez um excesso dela, vai saber – quando ouço essas músicas super-felizes. Hoje eu sinto frio. 

Não aquele frio de quando você está sozinho, rabiscando as paredes do seu quarto com frases sobre
solidão, não. Eu sinto o frio térmico mesmo. O frio de quando a temperatura deixa de repente de ser amena. Você não estava pronto, não estava esperando, mas então, quando você coloca o rosto para fora e sente o frio bater um pouco mais gelado na ponta de seu nariz, você percebe que ela está ali. Talvez essa seja uma daquelas boas metáforas da vida, talvez tudo seja como a temperatura caindo. Você não percebe até sentir.

Sttela Vasco

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Batom borrado. No travesseiro, o rímel marcado. Já foi muito melhor, já sonhou bem mais. No momento, é um eco de si mesma. Uma sombra de quem foi ou de quem pensou que seria. Não esperava um futuro tão certo, tanta fumaça no caminho e tanta rudeza. Não acreditava que a própria vida fugiria ao seu controle. Já é de manhã, larga de manha, é mais um dia para sobreviver. Mais um dia para fingir que ainda tem apenas metade de sua idade e que o mundo gira a seus pés. Pose bem feita, postura ideal. Joga um pires ou dois contra as paredes as quais ninguém tem acesso, esconde lágrimas no lenço de dentro do casaco. É mais um dia e ela sabe que ninguém vai querer comprar seus problemas, Oh, sim, ela os venderia. Uma barganha ou duas e teriam um novo dono. Ela voltaria a ser a menina de coroa na cabeça e pés no chão de uma cozinha suja, ela reanimaria sua alma inerte e voltaria a ser. Ser menina, ser poeta, ser princesa. Talvez ela seja, talvez ela já foi. Mais um batom, mais um rímel. Um ímpar num universo de pares. Ninguém precisa de uma estrela para ver a galáxia. Ela sabe, você sabe, eu sei. Nunca sua, minha. Nunca luxúria. Nunca desejo. Apenas mais uma marca em um colarinho que há muito desbotou. Mulher. Menina. Mulher. Menina. Mulher e menina.

domingo, 8 de julho de 2012

O que sobrou.

Abraços e despedidas. Uns traços tristonhos em uma multidão de anônimos. Eu, mais uma. Você, nada além de um a mais. A imagem que reflete em todos os cantos não é minha. Perde-se de vista as visões tão familiares. Olhos secos, ausência de dor, ausência de tudo. Sangue correndo por correr, vida parcial. Seca, oca, vazia. Nada mais vem , nada mais chegou. Abandonada por suas próprias palavras, não consegue mais lhes dar vida. Perdeu seus encantos quando se chocou com a realidade. Foi se destruindo, está quebrada. Remendos fracos não seguram mais seus pedaços. Caminha sobre cacos, perde um pouco de cor a cada passo. Cansada , caída, calada. Sofrer em silêncios, silenciar rumores. Sussurros de vozes roucas. Loucuras de quem vive na lucidez de um mundo irreal. (Sttela Vasco)

domingo, 15 de abril de 2012

Não consigo ser literal, não posso, não sei. Aos meus olhos, a vida carrega uma lente subjetiva. Eu nunca enxergo o concreto, tudo o que eu tenho é uma parcela da realidade mistura às minhas impressões perdidas. Se eu pudesse nunca mais dormir, se eu pudesse passar pela minha existência imersa nesse devaneio, creio eu que seria uma pessoa mais feliz. Agora eu entendo os motivos que me levam a ter tanto medo de abrir a minha vida para os sentimentos e, em consequência, para as pessoas. De modo óbvio, ao fazer isso, eu passo a sentir, e sentir é a parte mais difícil do conglomerado "viver". Sttela Vasco

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Há quem sonha. Quem luta por seus sonhos, entrega o sangue e dá a alma por eles.
Há quem deseja sonhar. Que passa noites em claro pensando em como poderia ser se...
E há pessoas como eu.
Pessoas que têm um sonho que lhes consome por inteiro. Eles sabem que aquela é a sua linha existencial, sabem que aquele foi o seu sopro de vida antes mesmo de viverem. Mas eles têm medo.
Têm medo de abandonar o que já existe porque acreditam que perderão o que conquistaram, e perderão para sempre.
Têm medo do fracasso e de admití-lo.
Têm medo da mudança.
Mas, ao mesmo tempo, eles, essas pessoas tão idênticas à mim, sentem a dor por perder aquilo que os motiva.
Sentem a dor por se afastar daquilo que daria um motivo a mais para sorrir e agradecer.
Sentem por não ter o brilho interno refletido em seus olhos. Ah! Como eles invejam quem tem.
Há pessoas como eu.
Indecisas, inseguras e insensatas.
Indecisas por não conseguir largar tudo e se entregar ao que ama.
Inseguras por não conseguir ter fé o suficiente.
Insensatas por, apesar de tudo, ainda sonhar e crer que, de alguma forma, um dia, irão conseguir abandonar o mundo para trás e conquistar o que almejaram por toda a vida.
No momento sou uma pessoa inerte, estática.
Sonho vez ou outra. Deixo levar-me através de visões de um futuro pleno, vou indo, quase acreditando que estou perto de algo palpável. Então caio e acordo para a realidade.
A realidade que eu escolhi, a realidade da qual eu não consigo me desvincular e que, por essa razão, está me matando aos poucos.
Sim, matando. Porque, conforme matamos um sonho, matamos a nós mesmos.
Cada vez que o sufocamos, estamos sufocando nossa própria alma.
Eu estou perto, muito perto, de perder completamente o ar.
Quem sabe dessa forma, de uma maneira contraditória e anormal, eu não consiga o fôlego necessário para lutar?
Por enquanto, fico calada. Observando ao longe o que, por minha própria culpa, não posso ter.
Sttela Vasco

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Adágio

Uma avenida iluminada, uma cidade efervescente... E todo o controle que tinha sobre sua vida estava esvaindo-se por entre suas mãos. Talvez nunca tenha realmente lhe pertencido. Sua cabeça girava e ela mal conseguia ver o que estava logo a sua frente, sentia raiva de si própria, raiva de seu egoísmo cego. Tudo estava tão claro, todos estavam tão alegres. Um guitarrista de rua tocava alegre alguma canção natalina famosa, pessoas paravam para observá-lo. “A música une as pessoas”, alguém lhe disse uma vez. Era estranho para ela perceber que aquele homem sem nada estava feliz. Tudo o que ele tinha em mãos era um instrumento gasto, um amplificador velho e a graça de ser artista. Porque, para ela, os artistas têm algo a mais em suas almas, algo que vai além da compreensão de qualquer outro ser humano. Não havia razões para se queixar, tudo a sua volta conspirava a seu favor, tudo lhe trazia um ar agradável. Porém ela não conseguia mais ver graça naquilo tudo. Breves momentos de sorriso, muitos momentos de frustração e alguns de lágrimas. Os de lágrimas eram os que mais lhe doíam. Sentia-se fraca e frágil, gostaria que alguém tomasse conta de tudo por ela, que alguém tomasse conta dela. Não. Jamais permitiria que aquilo transparecesse ninguém nunca poderia saber. Era egoísta sim, mas, ao menos, admitia. Havia momentos em que sorria, momentos em que parecia ter alcançado uma alegria extravagante, uma felicidade plena. Mas ainda assim havia momentos de escuridão. E ela não sabia como lidar com tais momentos e, por essa razão, deixava ser consumida por eles. Deixava com que eles tragassem todo seu espírito e depois cuspissem frangalhos ansiosos para serem recompostos. Talvez houvesse algo de masoquista dentro dela, talvez gostasse de sofrer. Ou talvez gostasse de ter a esperança de que alguém viria lhe socorrer e lhe puxar de volta à luz.
(Sttela Vasco)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Aqueles três quartos

Eu precisava desabafar, colocar tudo isso que está me corroendo tão severamente para fora. Minha família não merece o meu mau humor, a minha falta de fé ou o meu negativismo. Meus amigos não merecem se sentir culpados por estarem felizes. As pessoas não devem ter medo de dizer o quanto estão felizes só porque estão perto de mim e com medo que isso me magoe. Confesso, não sou inabalável. Porém não sou tão frágil quanto aparento ser. Eu deixo a tristeza vir, eu deixo que ela me sufoque só para depois poder rir, só para depois sentir um pouco mais de graça ao viver. O problema é que, a cada baque, eu vou ficando mais fria e, cá entre nós, eu odeio ser fria. Então dedico o meu amor a causas que eu acredito que valem a pena lutar. Só que, mais uma vez, a minha família não merece isso. Quem me ama não merece isso. Eles me dão motivos para ser exorbitantemente feliz, mas ainda assim eu prefiro me deixar abater pelo único motivo que me entristece. Eu sempre serei romântica, apaixonada, sonhadora, mas ninguém mais vão saber disso. Eu não vou mais deixar que coisas tão miúdas causem tamanho estrago dentro de mim. Sou egoísta. Egoísta por não admitir e agradecer todas as bênçãos que tenho, mas por que não consigo me sentir completamente feliz? Qual é o problema comigo? Será que mais alguém já se sentiu assim? Desse jeito meio três quartos feliz e um quarto triste? Será que alguém já sentiu que esse mísero um quarto afeta muito mais do que deveria? Isso está me consumindo, eu estou me deixando consumir. Vou deixar o monstro me engolir, vou me manter só no escuro, vou chorar em silencio e deixar inúmeros nós se atarem em minha garganta, vou fazer tudo isso. Vou fazer tudo isso só para depois poder levantar e dizer: estou forte o suficiente agora, pode mandar a próxima surra. Porque, mesmo se eu sangrar, mesmo se eu estiver beirando à desistência, eu vou implorar por mais. Porque, apesar de doer, isso me traz força e faz com que eu me sinta mais viva do que nunca. Pesso não estar bem agora, mas vou ficar. Eu paro, dou um tempo, mas eu sempre volto. E o mundo inteiro vai ouvir a minha voz quando eu decidir voltar. No momento preciso de uma trégua, um descanso. Preciso me isolar, preciso de um café bem forte, algumas doses e muito chocolate. Preciso chorar, preciso me entregar outra vez para a música, preciso me afastar e buscar devolver a quem eu amo toda a felicidade que me dão. Preciso recompensá-los e amá-los ainda mais. Pode ser que isso aconteça amanhã, pode ser que leve um tempo. Talvez até mais, ou até menos, do que eu esperava. Mas eu volto. Esperem para me ver ressurgir das cinzas mais uma vez. E aguardem para ver mais um novo lado dessas múltiplas facetas que eu tenho em meu poder. Porque eu posso não usar máscaras, mas eu me camuflo sempre. Desculpem-me, foi apenas um desabafo.
(Sttela Vasco)